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Fonte: DevianArt/darnnerdeel |
Tokyo Drifter (Tóquio Violenta, no Brasil), é uma carta de amor á pop-art. As cores berrantes, o estilo arrojado, os cenários geométricos e cuidadosamente decorados, cenas lindamente filmadas e um cativante niilismo permeiam o filme do inicio ao fim.
Sendo, sem dúvida alguma, um dos mais memoráveis filmes do diretor japonês Seijun Suzuki, também foi seu filme com mais restrições orçamentarias, devido a divergências criativas com o estúdio Nikkatsu. Porém, essa limitação acabou influenciando o fantástico visual do filme, obrigando o diretor a ser criativo com os limitados takes e cenários. O resultado em alguns momentos beira ao surreal, criando um estilo visual inconfundível, lembrando as pinturas geométricas de Mondrian.
Este cuidado com o visual torna o filme uma obra única. Seus personagens e cenários são autênticos, glamorosos e carismáticos, um convite para as imperatividades e ansiedades dos anos 60.
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Fonte: Criterion |
No filme, acompanhamos Tetsuya "Phoenix Tetsu" Hondo, um ex-yakuza que continua leal a seu antigo chefe, Kurata, mesmo após este ter desativado sua organização criminal. Isso se deve a um estranho ''senso de dever'', que Tetsu carrega por grande parte do filme. Após ter problemas com o líder de sua antiga organização rival, Otsuka, este se vê obrigado a deixar sua vida e seu amor, Chiharu, para trás.
O resto do filme se resume a Tetsu fugindo dos assassinos de Otsuka, em especial "Viper" Tatsuzo, um implacável atirador, que acaba se mostrando o reflexo da cega lealdade de Tetsu á Kurata. Após descobrir a verdadeira face da yakuza, Tetsu retorna a Tóquio, caminhando em direção á um intenso e surreal final.
O roteiro é simples, sendo apenas um fio condutor para o espetáculo sensorial. Mas, mesmo em sua simplicidade, os personagens apresentam grande carisma, tanto em seus figurinos quanto em seus sutis maneirismos que os atores conseguem empregar magistralmente.
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Fonte: Criterion |
O estiloso jogo de luzes e câmeras fazem os cenários surreais e minimalistas criarem vida, dando urgência e tensão para as emoções e conflitos dos personagens. O elaborado jogo de luz contribui também nos secos e brutais tiroteios do filme, onde Suzuki brinca com as convenções da ação descerebrada dos filmes B da época, dando limitações claras as habilidades dos personagens.
Porém, o coração do filme, assim como o de seu protagonista, reside na música. Claramente inspirada nas trilhas sonoras de westerns italianos, o arrepiante assovio de Tetsu permeia o filme inteiro, nos lembrando que o personagem, apesar de seu sangue frio e sua lealdade cega, ainda carrega uma doce sensibilidade no coração. Essa paixão pela música é compartilhada entre Tetsu e Chiharu pela belamente brega canção tema do filme,
''tokyo nagaremono'' de Hajime Kaburagi.
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Fonte: Criterion |
Tokyo Drifter é um produto do seu tempo. Mas, justamente por este filme só poder ter nascido na década de 60 torna a obra atemporal. Temos plena ciência do tempo e do espaço da película, o que faz da cor, do som e da história de Tetsu muito mais interessantes e surreais do que foi no passado.
Sem dúvida alguma é uma obra obrigatória para qualquer amante do cinema asiático, um sonho surreal que nos leva á uma feliz complacência diante das claras limitações técnicas que o filme apresenta. E claro, com uma trilha sonora lindamente brega.
''dokode ikitemo nagaremono
douse sasurai hitorimino
asu ha dokoyara kaze ni kike
kawaii anokono mune ni kike
aa tokyo nagaremono''
Abraços.